quarta-feira, 23 de julho de 2008

O COMUNICADO DA ANTRAM

Com o comunicado hoje emitido, a Antram escolheu mal o momento e a forma para falar de novo das dificuldades dos transportadores rodoviários de mercadorias.

Quem acompanha o sector, e mais ainda quem nele trabalha e dele depende, sabe que está agendada para esta semana uma reunião entre a ANTP e o Governo, supostamente para discutir a situação do sector e medidas de apoio.

A reunião da nova associação com a tutela não é de estranhar. Afinal, desde a paralisação de Junho que ficou claro que não era “aquela” (o acordo entre o Executivo e os transportadores) a solução que os grevistas queriam. Adivinhava-se, por isso, que voltariam “à carga”, mas agora com a representatividade de uma associação de transportadores formalmente constituída.

O comunicado da Antram, em vésperas dessa reunião, corre, assim, o risco de ser considerado uma tentativa de “marcar terreno”, de “dizer presente”, de manter pelo menos a aparência da pressão reivindicativa sobre o Governo.

Mas não só. O comunicado surge também poucos dias depois da demissão “compulsiva” da Direcção Regional do Centro da Antram, ante o descontentamento dos associados com o comportamento da associação em tempos de crise. A “pressa” em responder aos contestatários não foi, está visto, boa conselheira.

E o que dizer do teor do comunicado? Afirmar, um mês depois, numa situação que continua a ser de urgência, que as medidas acordadas não foram ainda aprofundadas, pode ser uma forma rebuscada de reconhecer que, afinal, o acordado de pouco vale para atacar os problemas imediatos dos operadores.

Uma impressão que é reforçada pelo anúncio da propositura de um novo “pacote” de medidas de apoio específicas para as PME. Mas não são as PME (ou mesmo as micro-empresas) a maioria dos associados da Antram? E se agora se vai olhar especificamente para elas, para quem se olhou quando se rubricou o acordo com o Governo?

De novo, fica a dúvida se não será este “piscar de olho” às PME uma tentativa de controlar os estragos que a ANTP poderá fazer entre a massa associativa da Antram. E, mais, os estragos que as PME associadas da Antram poderão fazer entre os corpos dirigentes da associação.

Por último, está visto que com o surgimento e afirmação da ANTP o sector do transporte rodoviário de mercadorias tornar-se-á mais reivindicativo. Mas será bom que a vontade de mostrar trabalho e provar a representatividade de ambas as associações não as leve a entrarem numa espiral de reclamações e propostas mais ou menos inconsequentes. Os associados de ambas merecem – e precisam de – melhor.

Fernando Gonçalves
Transportes & Negócios

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