quarta-feira, 10 de setembro de 2008

NOVE MESES DEPOIS, TALVEZ...

11 de Junho – No auge dos protestos dos camionistas, que ameaçavam paralisar o País, Governo e representantes dos transportadores rodoviários de mercadorias rubricaram um acordo que, entre outras cláusulas, previa a criação “de imediato” de grupos de trabalho para tratar algumas questões delicadas.

 

13 de Agosto – Os titulares do MOPTC e do MTSS rubricam o despacho n.º 22775/2008, que estipula a criação dos ditos grupos de trabalho.

 

5 de Setembro – O despacho 22755/2008 é publicado em Diário da República.

 

Três meses, 85 dias, foram precisos para instituir os grupos de trabalho acordados em 11 de Junho, e que era suposto serem criados “de imediato”, ainda que sujeitos à disponibilidade das partes envolvidas.

 

Caso para perguntar quem é que não esteve disponível nesse entretanto. Ou se a culpa foi do período de férias. Se é que alguém se pode dar ao luxo de ir férias quando tem a casa a arder…

 

A criação dos grupos de trabalho está agora fixada em letra de lei. Mas há que esperar 15 dias mais para que os vários intervenientes nomeiem os seus representantes. E com isso chegaremos a 20 de Setembro, se todos, ou algum, decidirem esgotar o prazo.

 

A partir daí, tudo será mais fácil. Cada grupo de trabalho tem seis meses, seis!, para apresentar as suas propostas. O que, assumindo que o tempo será todo preciso, nos “atira” para a segunda metade de Março… de 2009.

 

Depois disso, e porque a última palavra caberá sempre ao Governo, será de esperar que o Executivo decida em função das recomendações recebidas e legisle de acordo. O que, a avaliar pelo exemplo do despacho que está na origem de tudo isto, pode demorar o seu tempo…

 

A serem cumpridos todos os prazos, matérias que foram consideradas importantes e urgentes em Junho passado para a sustentabilidade – para não dizer sobrevivência – de um sector, poderão ficar decididas nove meses depois.

 

E todavia algumas das questões em apreço são velhas de meses, ou mesmo de anos, e foram já objecto de múltiplos contactos entre os transportadores e os representantes das tutelas. Casos da adaptação da legislação laboral e das “ajudas de custo TIR”, em que todas as partes envolvidas estão fartas de saber o que uns e outros querem e o que uns e outros estão dispostos a dar.

 

Torna-se, assim, difícil compreender várias coisas neste processo. Desde logo, para que é necessário criar um grupo de trabalho para discutir um assunto que já foi debatido; depois para que são precisos dois meses para fazer a lista dos membros do dito grupo, quando dois minutos bastam para elencar quem deve ser ouvido e achado no processo; e, finalmente, para quê seis meses para chegar a uma conclusão, quando as partes sabem perfeitamente o que querem.

 

Será por estas e por outras que no anedotário universal se diz que quando não se quer fazer nada se cria um grupo de trabalho?

 

Agora, governantes e dirigentes associativos, façam o favor de explicar estes timings aos empresários e trabalhadores que estão em riscos de perder o seu ganha-pão.

                                                                                                                    

                                                                                                                           Fernando Gonçalves

 

 TRANSPORTES & NEGÓCIOS

CAMIONISTAS VOLTAM A GREVE

Os camionistas portugueses poderão voltar a paralisar, insatisfeitos que estão com os resultados práticos do acordo de Junho com o Governo. O aviso é deixado por Silvino Lopes, um dos líderes da paralisação de há três meses. Para amanhã estão previstas novas diligências envolvendo a Antram e o Governo, ao que o TRANSPORTES & NEGÓCIOS conseguiu apurar.

 

A exemplo dos espanhóis da Plataforma, também os camionistas portugueses poderão estar disponíveis para retomar os protestos contra as dificuldades que se sentem. Em declarações ao “JdN”, Silvino Lopes avisou que “está tudo “esmagado”. Precisamos de soluções a curto prazo e o que nos foi dado em Junho não serve. A insatisfação está generalizada e se calhar vamos voltar ao mesmo [paralisação]”.

 

Em Junho, a principal pretensão dos camionistas em greve era a criação do “gasóleo profissional”, no que não foram atendidos pelo Governo. Ao invés, as medidas acordadas entre o Executivo, a Antram e os representantes dos grevistas, ou ainda não foram implementadas, ou têm pouco ou nenhum impacte no dia-a-dia imediato dos transportadores.

 

A própria Antram, que se distanciou dos protestos de rua dos camionistas, criticou entretanto o atraso do Governo na implementação das medidas acordadas, e chegou a falar, sem no entanto especificar, na necessidade de um novo “pacote” de medidas de apoio específico às PME do sector.

 

Entretanto, o TRANSPORTES & NEGÓCIOS sabe que para amanhã estão previstas novas diligências a propósito deste dossier, que envolverão a Antram e representantes do Executivo.

 

Em Espanha, a Plataforma, que representa pequenos transportadores e critica a forma de actuação da confederação patronal do sector, admite regressar à greve num prazo de 90 dias caso não sejam atendidas as suas principais reivindicações.


Retirado da TRANSPORTES & NEGÓCIOS